Em um cenário onde o país possui vagas de emprego, mas não há profissionais na quantidade e na qualidade desejada, onde a escola não prepara profissionais para estas vagas e onde os jovens buscam diplomas sem interesse no que estão aprendendo, quem são os responsáveis pela preparação desses jovens para o mercado de trabalho e para a sociedade?
Segundo Heidrich (2008), pesquisas mostram que as competências de um aluno que conclui o Ensino Médio público no país é a mesma que seria esperada de um estudante do último ano do Ensino Fundamental. Evidencia-se assim que o jovem, mesmo com Ensino Médio completo não está sendo preparado para o mercado de trabalho e tão pouco para novos desafios que exijam determinadas competências e habilidades.
Os Parâmetros Curriculares do Ensino Médio apresenta uma série de competências que devem trabalhadas no processo de ensino-aprendizagem, segunda elas, o aluno deve ser capaz de:
– Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constituição de significados, expressão comunicação e informação.
– Analisar, interpretar e aplicar os recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização das manifestações de acordo com as condições de produção e recepção.
– Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
– Respeitar e preservar as diferentes manifestações da linguagem utilizadas por diferentes grupos sociais, em suas esferas de socialização; usufruir do patrimônio nacional e internacional, com suas diferentes visões de mundo; e construir categorias de diferenciação, apreciação e criação.
– Utilizar-se das linguagens como meio de expressão, informação e comunicação em situações intersubjetivas, que exijam graus de distanciamento e reflexão sobre os contextos e estatutos de interlocutores; e saber colocar-se como protagonista no processo de produção/recepção.
– Compreender e usar a Língua Portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização de mundo e da própria identidade.
– Conhecer e usar língua(s) estrangeiras moderna(s) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais.
– Entender os princípios das tecnologias da comunicação e da informação, associá-las aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte e aos problemas que se propõem a solucionar.
– Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em contextos relevantes para a sua vida.
Prado (2002) reforça a idéia de que o aluno além de entender e conhecer as diferentes linguagens e tecnologias que estão a sua volta, deve-se aplicá-las e explorá-las.
É necessário aprender outras linguagens além da escrita. Gráficos, estatísticas, desenhos geométricos, pinturas, desenhos e outras manifestações artísticas, as ciências, as formas de expressão formais e coloquiais tudo deve ser lido e tem códigos e símbolos específicos de decifração. Quando um aluno está diante de um problema matemático, precisa ser capaz de interpretar a pergunta para entender que tipo de resposta é esperada. Idem para quem busca extrair conclusões de uma tabela de censo demográfico. Se o professor pede para escrever cartas a destinatários diferentes, o estudante tem de escolher o estilo e o vocabulário adequados a cada situação.
Contudo ao longo de sua trajetória no ensino médio o aluno acaba não desenvolvendo essa capacidade de análise e adaptação a diferentes situações.
Segundo Prado, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996, trouxe uma nova identidade para o Ensino Médio, de forma que ele deixa de ser um apêndice do Ensino Superior e juntamente com o Ensino Fundamental e à Educação Infantil passam a formar a Educação Básica.
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que institui a Lei de Diretrizes e Bases em seu Art. 21º. A educação escolar compõe-se de: I – educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II – educação superior.
O Mistério da Educação apresenta no documento do Ensino Médio Inovador que o ensino médio deve atender tanto a educação quanto a preparação para o trabalho:
A identidade do ensino médio se define na superação do dualismo entre propedêutico e profissionalizante. Importa, ainda, que se configure um modelo que ganhe identidade unitária para esta etapa da educação básica e que assuma formas diversas e contextualizadas, tendo em vista a realidade brasileira. Busca-se uma escola que não se limite ao interesse imediato, pragmático e utilitário.
Entender a necessidade de uma formação com base unitária implica em perceber as diversidades do mundo moderno, no sentido de se promover à capacidade de pensar, refletir, compreender e agir sobre as determinações da vida social e produtiva – que articule trabalho, ciência e cultura na perspectiva da emancipação humana, de forma igualitária a todos os cidadãos.
Contudo, nesta mesma proposta para um Ensino Médio Inovador, o Ministério da Educação apresenta que se passado vários anos ainda encontra dificuldades para conciliar as duas faces da preparação do jovem para a sociedade.
Após 12 anos da LDB, os dados e as avaliações oficiais revelam que ainda não foi possível superar a dualidade histórica que tem revalecido no ensino médio, tampouco garantir a universalização, a permanência e a aprendizagem significativa para a maioria de seus estudantes.
Neste contexto, o país possui alunos que ao término do Ensino Médio não possuem as competências necessárias e propostas desenvolvidas, sejam elas voltadas para o ensino ou preparação para o mercado de trabalho. Contudo esses alunos ainda possuem pela frente dois caminhos a seguir, a continuação dos estudos e o trabalho.
Estudos mostram que, para os alunos que seguem o Ensino Técnico como a opção de continuação
Segundo Neri (2010), somente 19,72% dos jovens empregados no Brasil freqüentaram algum curso de Educação Profissional. Destes 0,11% optaram pela Graduação Tecnológica sendo que 17% apenas cursaram com objetivo de possuírem um certificado. Destacasse ainda o seguinte dado: trabalhadores com Educação Profissional possuem 48% mais chance de conseguir um emprego no Brasil do que os candidatos com apenas Ensino Médio.
Entre os 80,28% dos jovens que não freqüentaram algum curso de Educação Profissional e os que apenas ingressaram na Educação Profissional por um certificado, estão aqueles que apenas se dedicam à simples técnica de saber fazer algo.
Segundo Martins (2000, p.20) treinar para entender como e em que momento apertar este ou aquele botão, limitar-se a compreender uma fase de operação, não significa o conhecimento de todo, compreender qual a origem de uma determinada matéria prima, qual o destino de produtos finais, qual o valor do trabalho realizado, tornam-se questões descartáveis para aqueles que somente querem fazer e não saber.
Baseado em Gramsci ao defender que um dos problemas da educação era a falta de conexão entre a educação e a produção de fábrica, Martins acaba por evidenciar a importância que o professor, em uma sala de aula, possui ao repassar determinado conhecimento para seus alunos, mas não somente repassá-lo e sim fazer com que ele entenda e identifique o real significado do conhecimento como um todo.
Retomando os conceitos de Gramsci expostos por Martins, em contra ponto a atual educação, não podemos formar pessoas especificamente para o trabalho fabril, mas também não devemos formar jovens que eternamente estarão na posição de alunos. Pois segundo Gramsci (1982, p.136) a escola deve conduzir o jovem pelo caminho da escolha profissional, forman-do-o como pessoa capaz de pensar, de estudar,de dirigir ou de controlar quem dirige.
Farias (1995, p. 30) relata que para educar o jovem segundo a proposta de Gramsci o professor deveria ser mais do que um transmissor de conhecimento.
Propunha que esse fosse um intelectual orgânico e não somente o transmissor de conhecimentos na escola, e que fosse também, um educador que representasse a consciência crítica da sociedade; que tivesse sempre presente, como objetivo essencial, a formação do homem coletivo, onilateral; que assumisse o papel de mediador entre a sociedade em geral e a sociedade infanto-juvenil em desenvolvimento, assistindo ao processo evolutivo e estimulando-o através da busca de um equilíbrio dinâmico e dialético entre a imposição social e iniciativa autônoma do indivíduo.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ensino Médio Inovador. Brasília, DF: Ministério da Educação, 1999 Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/ensino_medioinovador.pdf>. Acessado em abril de 2010.
BRASIL.Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília,DF: Ministério da Educação, 1999.
FARIAS, Itamar Mazza. O sentido do trabalho como princípio educativo na concepção gramsciana. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/issue/view/80>. Acessado em abril de 2011
GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. .Rio de Janeiro,RJ: Editora Civilização Brasileira S.A.,1982
Heidrich, Gustavo. Educação na pauta. Disponível em : < http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/planejamento-e-financiamento/educacao-pauta-425460.shtml>.Acessado em abril de 2011
MARTINS, Marcos Franscisco. Ensino técnico e globalização: cidadania ou submissão? – Campinas, SP: Autores Associados 2000. – Coleção polêmicas do nosso tempo.
NERI, Marcelo Cortes. Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho. Rio de Janeiro: FGV/CPS, 2010. Disponível em: < http://www3.fgv.br/ibrecps/VOT2/EduProfi_texto_Neri_20100526_FORMATADO.pdf > Acessado em: junho de 2010.
PRADO, Ricardo. Especial Ensino Médio. Disponível em: < http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/modalidades/especial-ensino-medio-425400.shtml > Acessado em junho de 2010.
Spotorno, Karla. Curso profissionalizante aumenta em 48% a chance de conseguir emprego. Disponível em: <http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI143262-16349,00 -CURSO+PROFISSIONALIZANTE+AUMENTA+EM+A+CHANCE+DE+CONSEGUIR+EMPREGO.html>. Acessado em junho de 2010.